A diminuição da área alagada no Pantanal, que chegou a 61% em 2023 - equivalente a 382 mil hectares a menos do que o usual - está afetando as rotas migratórias globais das aves, de acordo com especialistas em biodiversidade.
O bioma atrai aves de diversas partes do Brasil e do mundo, como Argentina, Ártico, Estados Unidos e Canadá. O período de maior chegada varia conforme a espécie migratória, geralmente durante o período de cheias, de outubro a março.
Os especialistas apontam que a principal questão que interfere nas rotas das aves é a disponibilidade de alimentos. Quando os peixes não encontram ambientes favoráveis, a quantidade de comida disponível para as aves diminui.
"A dinâmica das águas do Pantanal regula a disponibilidade de alimentos para muitas espécies. Os peixes necessitam de áreas alagadas para se reproduzir e se alimentar. A redução da água pode diminuir a disponibilidade de recursos alimentares, afetando a cadeia alimentar local", explica Eduardo Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas.
A consequência da redução na área alagada afeta a cadeia alimentar de maneira ampla, não se limitando apenas às aves. "A perda de água pode reduzir a capacidade do Pantanal de sustentar essas populações, impactando as rotas migratórias globais", complementa Rosa.
Gustavo Figueiroa, diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal, destaca que a migração é uma resposta à busca por melhores condições de vida. "No caso das aves que chegam ao Pantanal, muitas vêm do sul da América do Norte, fugindo das condições extremas do Polo Norte", exemplifica.
Figueiroa explica que a mudança no ciclo migratório devido à diminuição da área alagada não é um processo linear. "Esta redução ocorre gradualmente ao longo de vários anos. Se uma população de aves encontra dificuldades para encontrar alimento, talvez no próximo ano ela opte por não migrar até o Pantanal e pare em outro local", detalha.
Um estudo da WWF Brasil monitorou aves que vivem ou migram para o Pantanal, destacando que espécies como o batuirucu (pluvialis dominica), que reproduz principalmente no Ártico, migram para áreas de invernada na América do Sul, cruzando o Atlântico a partir da costa leste da América do Norte.
Além da redução da água, o aumento das queimadas no Pantanal também preocupa os especialistas, pois reduz ainda mais a disponibilidade de alimentos para os animais. Apenas no primeiro semestre deste ano, o bioma já foi afetado por queimadas que consumiram uma área equivalente a três vezes o tamanho da cidade de São Paulo, totalizando 468 mil hectares.
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