Moradores convivem há décadas com mau cheiro e ratos perto de usina de compostagem em Ceilândia

Há cerca de 30 anos, famílias que residem na QNP 24, no P Sul de Ceilândia (DF) convivem diariamente com o odor forte de lixo transformado em adubo. A Usina de Tratamento Mecânico Biológico (UTMB), que opera no local há 39 anos — portanto bem antes da instalação das casas — processa lixo e produz mais de 20 mil toneladas de composto orgânico por mês.

Apesar da regularidade na operação, os vizinhos reclamam de cheiros constantes, presença de ratos e moscas, além do receio de problemas à saúde. “O que incomoda é esse fedor… se pudessem tirar essa usina daqui, eu agradeceria”, diz uma moradora que trabalhou na unidade. Outro morador histórico relata que o odor invade as casas e torna difícil até almoçar. Muitos consideram vender suas casas, mas dizem que o valor da venda é baixo demais para quem tentaria comprar algo em outro lugar. 

Uma moradora mais recente afirma conviver com “muita ratazana e muita mosca” diariamente. Ela conta ter encontrado um “ninho” de ratos no quintal e teme pela saúde do filho, diante da quantidade de insetos e roedores presentes. 

Riscos à saúde 

Segundo um pneumologista consultado, a exposição contínua aos gases e odores gerados pela compostagem pode agravar problemas respiratórios, aumentar o risco de infecções e provocar sintomas como tosse, irritação das vias aéreas e piora de doenças crônicas. Além disso, os impactos vão além do físico — também afetam o bem-estar psicológico, com relatos de irritabilidade, distúrbios do sono e cansaço. 

Especialistas em direito administrativo e infraestrutura alertam que, embora a legislação permita usinas de compostagem próximas a áreas residenciais, é essencial que exista um plano eficaz de mitigação de odores e manejo de chorume — com drenagem, aeração e protocolos de emergência, sobretudo em períodos de chuva. Segundo eles, faltam ações mais robustas para proteger os moradores.

O que diz o órgão responsável

O Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), responsável pela unidade, afirma que não há planos de transferir a usina para outro endereço. Eles reconhecem o problema e dizem que já adotaram a chamada “barreira verde”: plantio de cerca de 1.980 mudas de sansão-do-campo e 430 de eucalipto, iniciado em 2022. Contudo, conforme a própria estimativa do órgão, essa vegetação só deve atingir maturidade suficiente para conter os odores por volta de 2029. Até lá, os moradores seguem convivendo com o incômodo. 


Política ao Quadrado

Postar um comentário

0 Comentários