Com o avanço acelerado da inteligência artificial (IA), novas possibilidades têm transformado diversos setores — da medicina à educação. No entanto, esse progresso também traz sérios riscos, especialmente em momentos cruciais como o período eleitoral. Especialistas alertam que o uso indevido da IA pode comprometer a integridade dos processos democráticos.
Manipulação em escala: os deepfakes e a criação de desinformação
Entre os maiores perigos está o uso da IA para a criação de deepfakes — vídeos hiper-realistas que simulam falas ou ações de políticos. Essas montagens, muitas vezes indistinguíveis de gravações reais, podem ser utilizadas para espalhar mentiras e manipular a opinião pública.
Além dos vídeos falsos, algoritmos de linguagem avançados conseguem gerar textos, discursos e até notícias inteiras com aparência legítima. Com isso, cresce o risco da proliferação de conteúdos fabricados para confundir eleitores, distorcer fatos ou prejudicar adversários políticos.
Segmentação abusiva: o microtargeting impulsionado por IA
Outra ameaça está no uso da IA para analisar dados pessoais e direcionar propaganda política de forma extremamente segmentada. A técnica, conhecida como microtargeting, permite que candidatos ou grupos enviem mensagens específicas para diferentes perfis de eleitores, muitas vezes explorando medos, crenças ou vulnerabilidades individuais.
Esse tipo de abordagem, embora legal em muitos países, levanta questionamentos éticos. Ao falar "uma verdade diferente" para cada grupo, a prática pode corroer o debate público e dificultar a construção de consensos sociais.
Ameaças à transparência e à confiança no sistema
O uso da IA de forma opaca também representa um desafio à transparência dos processos eleitorais. Se eleitores não souberem distinguir conteúdos reais de artificiais, cresce o risco de desconfiança generalizada — tanto nas campanhas quanto nos próprios resultados das urnas.
“Quando tudo parece manipulado, inclusive a informação, as pessoas começam a duvidar de tudo, inclusive da democracia”, alerta a pesquisadora de ética em tecnologia Carolina Moraes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Como combater?
Diversos países e organizações têm buscado regulamentar o uso da inteligência artificial nas eleições. Propostas incluem:
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Identificação obrigatória de conteúdos gerados por IA
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Restrições ao uso de deepfakes políticos
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Transparência na segmentação de anúncios eleitorais
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Educação midiática da população
No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já iniciou debates sobre o tema, prevendo medidas preventivas para as eleições de 2026. No entanto, especialistas afirmam que a tecnologia avança mais rápido que a regulação.
A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa — capaz de ampliar o acesso à informação e modernizar campanhas. Mas, se mal utilizada, pode se tornar um instrumento de manipulação em massa e ameaça real à democracia. O equilíbrio entre inovação e responsabilidade será fundamental para garantir eleições justas, transparentes e livres.
Política ao Quadrado
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