Se Joe Biden perder as eleições de novembro, a história registrará que uma presidência foi rapidamente destruída em apenas 10 minutos.
Ficou evidente que um desastre político estava prestes a acontecer quando o presidente, de 81 anos, entrou rigidamente no palco em Atlanta, mantendo uma distância de dois metros e meio do ex-presidente Donald Trump, em um debate presidencial que pode se tornar o mais impactante da história em termos práticos.
De maneira objetiva, Biden teve seu desempenho mais fraco desde que John F. Kennedy e Richard Nixon iniciaram os debates televisivos em 1960 – um evento que na época, como na última quinta-feira (27), ocorreu em um estúdio de televisão sem audiência.
Minutos após o início do confronto, transmitido pela CNN, os democratas entraram em pânico com a perspectiva de seguir para as eleições com um candidato tão enfraquecido na liderança.
Ron Klain, principal estrategista de debates de Biden, sempre argumentou que "você pode perder um debate a qualquer momento, mas só pode vencê-lo nos primeiros 30 minutos". Seguindo essa métrica, o desempenho do presidente foi devastador, com o tom da noite sendo definido muito antes da meia hora inicial.
É ainda cedo para prever a reação dos eleitores e se o presidente conseguirá se recuperar. No entanto, Biden teve dificuldades em vencer Trump nos estados decisivos durante a pandemia de 2020. Com sua aprovação abaixo de 40% antes do debate, e em um empate técnico nas pesquisas, bastaria a perda de alguns milhares de votos para Trump retornar à Casa Branca.
Publicamente, não há indicações de que Biden seja incapaz de cumprir as funções presidenciais, incluindo decisões cruciais de segurança nacional, como evidenciado por suas recentes viagens internacionais. No entanto, sua habilidade de se comunicar com o país e de vender sua visão para um segundo mandato foi gravemente comprometida pelo debate da última quinta-feira.
Se o debate era a melhor chance de Biden reverter sua situação precária frente a Trump, foi um fracasso. Ao final da noite, o Partido Democrata enfrentava uma crise interna, com sérias discussões entre figuras proeminentes sobre a sustentabilidade de sua candidatura, a apenas dois meses da Convenção Nacional Democrata.
O ex-presidente não evitou questões difíceis, sendo muitas vezes rude e divisivo. Fez afirmações ultrajantes sobre seu próprio mandato e sobre suas tentativas de alterar os resultados eleitorais, além de se perder em jargões, especialmente ao tratar das mudanças climáticas. Mentiu descaradamente sobre seu papel no ataque ao Capitólio em janeiro de 2021.
Trump se recusou repetidamente a garantir que aceitaria o resultado das eleições de 2024 se perdesse, e fez declarações amplas e muitas vezes ilógicas sobre como seus inimigos no exterior cederiam à sua vontade devido à sua personalidade.
Durante um debate acalorado sobre quem era o melhor jogador de golfe, ficou claro por que os eleitores estão desanimados com as opções deste ano.
Biden apostou sua reeleição na ideia de ser a última barreira contra uma segunda presidência de Trump, que ele alega ameaçar a democracia e iniciar uma era de autocracia nos EUA. Ele precisa que os eleitores confiem nessa visão, mas seu desempenho no debate pode minar essa confiança.
O comentarista político da CNN, Van Jones, expressou sua decepção, chamando o debate de "doloroso" e sugerindo que muitos agora questionarão o futuro de Biden como candidato.
A vice-presidente Kamala Harris tentou desviar o foco do desempenho de Biden para as ameaças representadas por Trump, apesar de reconhecer um início lento no debate.
Os momentos mais fortes de Biden surgiram tarde demais para mudar impressões já formadas pelos telespectadores. Ele teve dificuldade em defender seu próprio histórico e em desmascarar eficazmente as falsidades de Trump.
Se a insatisfação democrata nos bastidores se transformar em sérias dúvidas sobre a capacidade de Biden, a crise pode se aprofundar ainda mais. No entanto, substituir um presidente em busca de reeleição seria um passo sem precedentes na era moderna e poderia dividir o partido, favorecendo Trump.
Biden não é o primeiro presidente a ter um debate ruim, mas seu desempenho desta vez pode superar os erros de Barack Obama e Ronald Reagan. Ambos se recuperaram em debates subsequentes e conquistaram um segundo mandato. No entanto, com outro debate agendado para setembro, é difícil ver uma estratégia clara para uma reviravolta táctica.
Um membro democrata resumiu o debate de Biden com uma palavra que agora ameaça definir sua tentativa de reeleição: "horrível".
Política ao Quadrado

0 Comentários